domingo, 13 de maio de 2007

Perigo

Vi logo que não ia lá fazer nada. Olá. Olá. Demasiado simpático. Um sorriso menos aberto e estavas lá. Assim já estás a fracassar no primeiro minuto. A entrada é acolhedora. Os sofás também. Quantos gajos já não lá foderam. Qual é o interesse de meter o não no meio das frases? Não ficaria melhor sem ele? E faço-o outra vez, caso não tenham reparado, chamo à atenção. A casa é acolhedora. Acolhedora é a palavra que os pobres usam para dizer pequena. Anda, vou mostrar-te a cozinha. Quero lá saber da cozinha, achas que algum dia a vou usar? A não ser que queiras fazê-lo lá. Aí até viro chefe. Estou a brincar, não te iludas, não estou assim tão desesperado para vir cá fazer isso. Só vim atender às preces do costume. Anda cá Ricardo, preciso de um amigo. Lá vai ele. Até te dava a trancada se não fosses mais furada que o Kosovo. Penso nisto muitas vezes. Demasiadas, até. Penso porque tenho pena. Davas uma boa rapariga, se não fosses uma merda. É suposto falar bem de ti só porque sou teu amigo? Não há um dia que não diga aos meus amigos que são uns filhos da puta, porque é que não posso dizer que és puta? E acredita que lhes digo com sentimento. E eles orgulham-se disso. Porque para nós, gajos, ser filho da puta é uma arte. Falas-me dos gajos que andam atrás de ti para saciar a fome, do vizinho que é um prevertido de primeira, dos teus colegas de curso, de umas aulas que não interessam a ninguém. Enfim, de tudo um pouco. E um pouco de coisa nenhuma. És sempre assim a falar. Falas e primeiro que apanhe uma frase que me interesse já passou metade da tarde. Ou da noite. O que vale é que é raro lembrares-te de mim. Será que é desta que perdes a ideia que me vais conseguir convencer a foder-te? Nunca mais meteste na cabeça que a primeira vez foi um erro. Dos grandes. Mesmo. Já me disseram que foi depois de mim que te perdeste completamente. Tenho culpa? Não consigo gostar do que não me dá tesão. Preferia um clip erótico de 30 segundos na televisão que uma noite de amor (Amor? Foda-se, vou deixar de dizer “fazer amor”, é muito homossexual, quando se está a falar de gajas assim) contigo. O que vale é que me esquivei aos teus beijos, ainda me engolias a língua. O medo que eu tive dos teus beijos nessa noite. Foi traumático. Não posso falar de sexo, perco-me logo. Acabas com o assunto da treta e passas finalmente à razão pela qual me chamaste lá, como sempre, eu. Detesto esta parte. Tenho mesmo de parecer amigo. Dá-me pena da rapariga. Sabes bem como és especial para mim. Cá vamos nós. Sei, e tu também sabes como és para mim, já discutimos isso. Eu sei, desculpa voltar a isto, mas é mais forte que eu. Estou cansada de gostar de ti, quero mudar, quero outra pessoa. Olha também eu quero que queiras e que faças isso! Lógico que não falei, pensar é uma arma poderosa. Contra as mulheres nem por isso, adivinham muitas vezes. Mas a encontrar outra pessoa, era alguém como tu. Exactamente como tu. Foda-se lá a sorte, igual a mim? Mas nunca ouviste dizer que não há duas pessoas iguais? Sempre sonhei com o dia em que conhecesse um sósia ou um clone meu. Ou que conhecesse um Eu vindo do futuro. Sonho demais, isso sim, é a verdade. Preciso de encontrar alguém que me faça esquecer-te. Vai dando umas fodas, isso passa. Mais? Ups, és mesmo cabra. Então não tenho como te ajudar, isso costuma resultar com toda a gente. És a razão pela qual sou meia puta, admito. Meia? Meia, calça, camisola, casaco, tu és é o conjunto todo. Deixa lá… Isso vai passar, nem que seja quando morreres. És mesmo cabrão, nem quando estou mais em baixo és capaz de parar com essas merdas. Que merdas? Essas, que deixam louca. Não digas isso que fico com medo que me violes. E ri-se descontroladamente. Vontade não me falta. Fujo já. E fugia mesmo, a gaja parece uma leoa. Não, vá, eu páro, era um crime tirares-me assim o tesão. Podes sempre ir para o quarto com uma fotografia minha e masturbares-te. Para quê fazer o costume se estás aqui ao vivo? Joana, por favor, pára com isso, juro que estou mesmo para me por a andar. És gay? Desculpa? Se és Gay. Homossexual. Paneleiro. Familiarizado com o tema? Estou é meio deficiente. O que é ser meio deficiente? É ter só o lado direito deficiente? Ou só da cintura para cima? Que seria da lingua portuguesa sem o “meio”? Estávamos perdidos com certeza. Claro que não sou, sabes disso tão bem como eu. Claro que não sei, so fodemos uma vez, depois fugiste e desde essa vez que parece que tens medo de mim. E tenho. Eu não quero que tenhas medo… É impossível, já viste como são as nossas conversas? É impossível criar um clima, uma conversa decente, sem que vá parar ao assunto do costume, a foda. Entre nós, claro está. Vou dizer-te pela enésima vez. Tu não me atrais. Minimamente. Mentaliza-te disso. Queres ajuda para ultrapassar isso? Posso tratar-te mal, deixar-te com uma má imagem minha, pode ser que esse pedestal onde me tens caia finalmente por terra. Que tal? Nunca ia funcionar. Que merda de gaja que me saíste. Sujeitas-te a tudo. Dás-me pena, foda-se, chega desta merda. Ai que tesão que me estás a dar. Foda-se, adeus.

1 comentário:

Jet disse...

pah..
ri-me e vi-me (de ver)..
um bom texto rui.. rui? estraho.. lol