segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um anexo político

Mais uma vez todos os partidos ganharam. O PSD perdeu 20 câmaras, mas ficou ainda com mais 8 que o PS. Desta forma o PS conseguiu mais 20 câmaras do que tinha e teve mais votos que o PSD, por isso ganhou. A CDU ficou com menos 4 câmaras, mas conseguiu ter mais que o CDS e o Bloco de Esquerda. O CDS ficou com as mesmas câmaras e por isso não perdeu. O mesmo sucede com o BE. No entanto, em meu entender, o grande vencedor foi o povo, que começou a entender que promessas de vento e bolas de espuma não é propriamente o que interessa. Como não há regra sem excepção, Isaltino e Valentim continuam no poder.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Borboletas

Acende-se um candeeiro na rua escura, iluminando o caminho que percorres, taciturna. Fito-te, sentado no banco do jardim. Conto os segundos - que fazem o velho truque de parecerem horas - que demoras a alcançar-me. Os espaços verdes que vais ultrapassando perdem relevância em tua função. Tenho visão afunilada, quando nela estás centrada, a paisagem tende a escapar-me. E tenho-me como bom observador. Acenas e sorris, e assim me fazes a mão, apoiada no banco, tremer. Talvez o banco tenha tremido, talvez tenhas reparado, evoluíste o sorriso para riso, e a minha ansiedade em felicidade.
Dás-me um beijo com carinho, como as mães dão, perguntas-me se está tudo bem. Agora está, apeteceu-me segredar.
O candeeiro que tinha renascido voltou a sucumbir, entretanto. Pergunto-te se foste tu, farto de saber que se apagou por estar longe de ti. Resmungas qualquer coisa imperceptível, e, reparando na minha cara, ris-te. Não percebes nada, tonto, ele tem ciúmes teus. Quis chamar-me à atenção quando passei por ele, porque sabia que eu vinha para aqui. Os candeeiros são tramados. Tramada estás tu, depois de me contares esse segredo. Tu e o candeeiro.
Desenhei uma serra no horizonte e mil vivendas com luzinhas, cheias de borboletas - já tinhas visto tantas borboletas a esta hora? Nem eu - para dar um toque romântico à noite. Meti uma lua cheia, bem grande, e 130 estrelas no céu. Contei-as duas vezes, só para ter a certeza que eram mesmo 130. Dizem os velhinhos que contar estrelas provoca o aparecimento de cravos. É por uma boa causa, arrisco. O céu azul petróleo e o banco verde, onde estamos, de madeira gasta e suportes velhos. Ameaça ruir a qualquer segundo, mas confio que a resistência nos aguente, afinal de contas não somos assim tão pesados. Senhor Banco, gostávamos de passar uns minutos aqui sentados, será que nos permite? O candeeiro meteu cunha para que eu me partisse, mas não vos faria tal coisa. Pisco o olho ao candeeiro e ficamos sentados, horas e horas, dias e noites, anos e vidas. Levantamo-nos, dormentes, e guardas-te por baixo do meu braço em direcção a casa. Ao passar pelo candeeiro aproveito para lhe deixar um pontapé, pequenino, só a tirar um bocadinho de tinta. Rui, comporta-te. Um beijo, agora, só para ele ficar irado, pode ser? Se fica irado por um beijo, vai sofrer a vida inteira. Isso é uma ameaça? Não, é uma inevitabilidade.

sábado, 3 de outubro de 2009

Sou de Magogo

Eu tentei que fosses incomensurável, sublime. Tão graciosa que doesse a garganta ao gastar o teu nome numa esplanada de café. Um dia vi-te sorrir e prometi-me nunca mais esquecer-te. Quis o fado privar-me a vida, o sorriso e o meu rosto. Tira-me tudo, menos o Amor, retorqui. Falei de pé, elegante e seguro, com voz austera. Entendeu-me perfeitamente, compreendia a minha situação, mas vociferou que os desígnios do Amor são incompreensíveis para nós, meros mortais, que talvez um dia os açambarquemos. Até lá, navegaremos. Muni-me de barco e vela, remos para dias calmos e pachorrentos. Coincidências, concluí. Tudo nasce de coincidências. Se tudo nasce do mesmo, não será paradoxal deduzir que é coincidência tudo nascer de coincidências? Calhou ver-te, falar-te, olhar-te, desejar-te, tocar-te, beijar-te, amar-te e chorar-te. Será também coincidência tudo acabar em arte? É esta arte que cria o Amor, vinda não se sabe de onde, provocada não se sabe porquê, que embala os dias tristes e exalta os dias bons, como um melhor amigo que está sempre lá, que não falha ou desilude.
Um dia vi-te sorrir e prometi-me nunca mais esquecer, não a ti, mas à parafernália de sensações eléctricas com que me bombardeaste. Pediste-me um segredo, escondi-o atrás da orelha: Sorri, pois quando sorris o mundo sorri contigo. Chora, e parte dele não parará de rir.