terça-feira, 10 de maio de 2016

Clint

Escrito a 17 de Fevereiro de 2014:

Hoje foi a segunda vez que visitei o meu avô no lar e que ele não me reconheceu. É Alzheimer, tenho a certeza, embora ninguém o admita. Foi chocante, a primeira vez. Nesta já lidei ligeiramente melhor. Mas faz-me muita confusão. Estar a falar com ele, sabendo que ele não sabe quem eu sou. Fala comigo porque eu lhe disse que era neto dele, e não porque se lembra de toda a minha vida, e de todas as vezes que falamos do FCPorto, da Sanjoanense, do CDS do Cambra e das esperas infindáveis que eu o obrigava a passar para me dar boleia da escola até casa dele. Uma viagem de 15 minutos a pé, e ele ia buscar-me de carro de propósito. Sempre fui um mimado. E ele fazia-me a vontade todos os dias do ano. Desde o 5º até ao 12º ano. É impensável para mim não retribuir o carinho agora, mesmo que ele não me reconheça. Ele merece. Porque se fosse eu, gostava que o meu neto, de quem tanto orgulho sempre tive e por quem tanto fiz, me fosse visitar de vez em quando. E eu vou, avô, prometo. Mesmo que já não te recordes de nada, vou sempre lá dar-te um beijo, porque eu gosto mesmo muito de ti. Choro neste momento porque sei que não consigo dizer-te na cara que te amo e o quanto te admiro. Não consigo dizer obrigado por tudo o que fizeste por mim, e sei que cada dia que passa é um risco grande de te apagares por completo. Que fique registada a minha cobardia, com as lágrimas que me caem pelo rosto. Lágrimas que nunca me caíram por nenhuma rapariga, mas que se atropelam sempre que te recordo e que penso no que será feito de ti.

O meu avô faleceu hoje. E partiu antes de eu ganhar coragem para lhe dizer obrigado.

sábado, 3 de novembro de 2012

Noites Difíceis - Volume 1 - Prefácio


O bar nas docas está apinhado de gente. No meio de tantos grupos, um casal de cara soturna. Uma cabeleira loira, ondulada, esconde um rosto bonito e uns olhos verdes. Dos lábios finos saem sons infindáveis dos quais apanho apenas o fim:
- Faz o que te apetecer, Pedro. Não tenho nada a dizer.
Isto, depois de um monólogo de uns bons dez minutos, é hilariante.
A Lara é assim, fala sempre como se fosse a primeira vez que o está a fazer, quem quiser que a decifre. Mas é com frases sem nexo e atitudes de estudante de ensino básico que me vai deixando o coração maior, dia após dia.
Chatice do dia: asfixio-a com expectativas que ela se acha incapaz de concretizar, como namorada. Ora, uma correcção ali, outra acolá, nunca fez mal a ninguém. Tudo em termos de sugestão, claro. Agora fazer disso um caso… podia dizer que é exagero. Mas não, é o costume.
- Queres fazer de mim a melhor pessoa do mundo! Vê se interiorizas de uma vez por todas… eu não vou mudar! E depois, já vi pessoas com mais moral do que tu para me vir com essa conversa.
Já faltava. Acabámos à sete meses atrás, só faltou disparar-me um tiro, na altura. Tudo porque andava - e cito - “demasiado amigo de certas pessoas”. Agradeci o eufemismo, visto que na realidade andava a tomar três cafés por semana com a Maria. Três cafés são, também, um eufemismo.
- Não voltes a trazer a Maria para uma conversa, esse assunto já foi mais que tratado, não? Era boa ideia esquecer estas últimas discussões e fazer um serão a dois, bem romântico. Sem grandes alaridos, ficar em casa, no sofá, a ver um filme, enrolados em cobertores a comer chocolate, que achas?
Falei em chocolate, nunca falha. Começa a arrumar toda a tralha que está espalhada pela mesa. Chaves, telemóvel, carteira, pulseiras, enfim, tudo o que possa caber numa bolsa de uma mulher. Ou seja, tudo. Já dei por mim várias vezes a comparar as bolsas das mulheres a buracos negros. As bolsas são maiores, só para que conste.
Ziguezagueamos entre os grupos por ali espalhados, em direcção à saída. Promete ser uma noite de amor a pairar por todas as divisões da casa. Não as troco por nada deste mundo. Tal como um café como este nas docas. Desde que ela ande por perto… está tudo óptimo. No dia em que deixar de me sentir assim, intitulo-me livre. Espero que esse dia nunca chegue. O amor é uma coisa estranha. Parece que quanto mais nos verga mais nos embrenhamos nele. Posso afirmar, sem qualquer problema, que sinto que vou amar a Lara para sempre. E nunca fui grande apoiante do amor eterno. É mais uma das lavagens cerebrais que sofri.
A saída a dois passos, falta uma mesa até lá. Três rapazes bem aparentados e bem dispostos animam duas morenas e uma loira. Esta última está divertidíssima, dando gargalhadas estridentes. Deduzo que o grupo não esteja sóbrio. Pelo menos a loira, embora de costas, deduz-se pelo comportamento.
Acredito que há momentos na vida que estão marcados para que tenhamos um infortúnio. Por muito que tentemos ficar quietos, ele acontece. Um copo que parte e que acaba com alguém a cortar-se, uma palavra mal interpretada que acaba em insulto, ou… um movimento de cabeça de uma loira sentada numa mesa nas docas que origina contacto visual.
- Pedro?! Olá!
Mas que grande merda, uma cara bem conhecida.
- Err… Olá, Maria…
- Olha para ti, todo bonito! Quem é a tua amiga? Estou a ver que ainda tens um fraquinho por loiras!
Queres uma pá, para tratar da minha cova? Esquece, não precisas, já está cavada.
- É a minha namorada, chama-se Lara.
- Namorada? Oh, estou a ver que assim não te posso convidar mais para aqueles nossos cafezinhos ao fim da tarde.
Ah bom, faltava colocar corpo na cova, obrigado então! Siga o funeral.
- Err… É… Depois tratamos disso, um dia. Vá, tenho de ir, adeus!
Ainda ouço a voz da Maria a dizer “Isso, corre, senão não a apanhas!” e aquela gargalhada característica. Inconcebível não a ter identificado.
Uns bons metros à minha frente vai a Lara, com os cabelos a esvoaçar, mais chateados que ela, e com as botas a bater com força no chão, capazes de impor respeito a qualquer um. Não sei o que dizer. Nem o que fazer. Pedir desculpa? Não fiz nada para pedir desculpa. Calo-me, ela que dispare.
- Desaparece-me da frente!
Podia ser pior. Será que ainda dá para fazer o serão romântico?
- O que é que eu podia fazer? Não sabia que ela lá estava!
- “Bla bla bla, todo bonito, fraquinho por loiras, cafezinhos ao fim da tarde”, – imita-a ela. Ah, como fica tão querida a gozar com as outras pessoas, mesmo chateada – mas que raio vem a ser isto? Queres fazer de mim parva em público? Não quero olhar mais para a tua cara! – E desata a acelerar o passo.
- Espera! Ao menos deixa-me dar-te boleia para casa!
- Claro que me tens de dar boleia.
Era escusado ter ouvido esta.
Convém lembrar que a Lara pensava que a minha relação com a Maria era puramente ocasional, – embora embirrasse algo com isso – como dois conhecidos que de vez em quando se encontram e se falam. E essa era, realmente, a verdade. No entanto a trela que a Maria sempre deu, fazia com que eu fantasiasse um bocado com ela. Principalmente naquelas fases menos boas. A miúda sabe falar, divertir-se e, mais importante, sabe tocar nos pontos certos. Nunca me passou pela cabeça trair, no entanto não nego que o corpo da Maria tenha um certo impacto em mim. Sempre teve. Em mim e em toda a gente por onde passa. Ela é daquele tipo de rapariga que faz com que o passeio agradeça que ela o pise, como se o facto de vaguear pelo mundo fosse um favor que faz a todos nós. E a facilidade com que escolhe com quem quer estar como quem escolhe um produto numa loja? Estão todos disponíveis, é só apontar. Se calhar engraçou comigo por eu não o estar. É o costume…
Temos sempre de encalhar nos caminhos mais complicados. Se vemos dificuldades, estamos lá. Quanto mais inalcançável parece, mais desejo nos desperta. É aquela velha questão, se é fácil não tem piada, certo? Expliquem-me então que química é esta, que é que se passa nos segredos do amor que nos faz querer mais quem nos quer menos. Somos capazes de gastar anos a tentar quebrar o coração de alguém que constantemente nos dá com os pés, no entanto não aguentamos duas semanas com alguém que nos idolatre e queira estar connosco a toda a hora. O segredo é o meio-termo, mas quem é que o atinge? E, melhor: quem é que, depois de o atingir, o consegue manter? É impossível. Uma relação é uma equação de equilíbrio constantemente instável, que necessita tanto de problemas como de soluções. Problemas para a avivar, soluções para a controlar.
Foi neste (des)equilíbrio que a Maria me encontrou. As coisas com a Lara não eram as melhores, e se quase sempre estou disposto a dar a vida por ela, às vezes sou capaz de nem dois cêntimos largar. Apareceu-me do nada, numa noite, num bar:
- Chamas-te Pedro, não é? És amigo do Rodrigo!
Sou sim, Barbie, e tu, serás um potencial depósito de fluidos? É claro que já sabia quem ela era, um mulherão daqueles não é anónimo para ninguém.
- Rodrigo? De onde é que conheces aquela cara feia do Rodrigo?!
- Sou amiga de infância! – Oh, que surpresa. Até que enfim que te apresentas.
- Ah, bom! Estamos em sintonia então, acabas de conhecer o amigo mais bonito dele, muito prazer em conhecer a mais bonita, Maria. – Respondo-lhe, presunçoso, arrancando-lhe uma risada igual à que ouvi no bar das docas. Assim nasceu a nossa amizade, o típico caso amiga de um amigo. Ela engraçou comigo desde o início, estávamos os dois bem dispostos naquela noite. Tudo entre pessoal conhecido fica mais fácil. Fomos os reis das discussões, fizemos rir tudo à nossa volta. Lembro-me de estar tão feliz que desejei ter a Lara ao meu lado, para ver se acordávamos da monotonia em que tínhamos mergulhado. Mas só lá estava a Maria.
O Rodrigo acabou a noite a dizer-me para a levar para casa, mas eu queria era ver se apanhava ainda a Lara acordada, quanto mais não fosse para lhe dar o beijo de boa noite na bochecha e pentear-lhe o cabelo.

Depois da ruptura da nossa relação, aos tais sete meses atrás, senti-me completamente abandonado. Daí as minhas várias tentativas para voltarmos a ter algo em conjunto – refutadas, logo sem qualquer hipótese. Fui vítima de opiniões precipitadas, a Maria era alguém com quem me dava bem, viam-nos juntos, e uma rapariga assim – perfeita à vista - dá sempre azo a bastantes interpretações. Chegou à Lara em pouco tempo. Se a nossa relação andava afundada em monotonia, passou do oito ao oitenta. Por tudo e por nada surgiam insinuações sobre onde eu pudesse ter estado, ou onde poderia ir. E se antes a Maria era mais uma pessoa com quem ela não engraçava muito, passou a inimiga número um. Transformou um estado de ataraxia quase insuportável para um exasperante estado de paranóia. Precisávamos de umas férias, por um longo período.
Arrependi-me no dia seguinte, mas ela tão cedo não voltou atrás. Fechou-me a porta na cara com um querido “Estás livre para ir comer aquela tua amiga, nunca mais cá voltes!”. Voltei vezes sem conta, tantas quantas bati com a cara na porta.
Bem… escorraçado, indesejado e sozinho, quem é que resiste à Maria nestas circunstâncias? Eu não.

Foram tempos loucos. Vivíamos mais de noite do que de dia. O sexo era incrível, foi como reviver as sensações esquecidas do sabor de uma boa estocada. Era completamente doida no que tocava à cama. Alinhava em tudo e queria sempre mais. E quando digo sempre, é mesmo verdade! Não me lembro de ir para cima dela e não lhe apetecer. Já o contrário… era o ritual. Não há pila que aguente, coitado de quem namorar com ela. Sempre dei o máximo mas todos temos um limite. E eu que sempre pensei aguentar-me bem, chego ali, parecia um virgem assustado nas mãos de uma profissional.
Há-de chegar o dia em que as mulheres pagarão por não serem elas a carregarem entre as pernas o factor mais importante no que toca tanto à existência como ao prolongamento do acto sexual. É fácil para quem não tem que levantar um rolo de carne sem as mãos pedir outra. Tão fácil que por vocês o faziam a noite toda. E fazê-lo sempre na posição de missionário? E no fim pedir um café, também, não? Ainda dizem que nós somos malandros no que toca à lide caseira. Pudera, compensamos - e bem, diga-se - na altura da verdade!
Cheguei a equacionar a hipótese de me juntar à Maria mas tal nunca iria resultar, gostava da Lara, sempre gostei, ia enganar-me a mim próprio e a ela. De qualquer forma fui-me aguentando por uns tempos. O suficiente até me sentir longe do que sou, até me despertar o relógio da consciência que dispara sempre que sente que algo não está bem.
Certo dia comecei a escrever sobre o meu estado de espírito. Quando dei por mim tinha enchido quatro páginas de euforia desmedida e futilidades. Nem uma única palavra afectuosa para com a Maria. Que estava eu a fazer com ela, na verdade? Eu não estava bem. Não era aquele Pedro desvairado que a Lara admirava. Aquele sorriso que me andava estampado na face não era mais do que uma tampa para o fosso do meu interior. Foi esse o estalo sem mão que levei, na hora. Se continuasse assim, a Lara nunca me quereria. Geralmente funciona assim, interiorizo que não há maneira possível de voltar a tê-la, depois de tudo. Tento esquecê-la com quem mais me entreter, até ao dia em que haja o mínimo sinal de fraqueza por parte dela. Aí, viro cachorro e nunca mais me apanham fora do trilho. Mas, ei, será que não é possível recuperá-la sem pressentir uma cedência de parte dela? Serei assim tão fraco? Seremos assim tão frágeis?
Se realmente a quisesse – e sempre a quis, mais do que tudo -, tinha de mudar, radicalmente. Tinha de a saber reconquistar, como fizera à anos atrás, ainda miúdos. Mais uma vez.

De tantas vezes ter batido à porta de casa dela, cheguei a ter os nós dos dedos bastante pisados, constantemente. Isto, até ao dia em que decidi usar a cabeça… literalmente. Também a pisei. Apenas depois lhe dei o devido uso, agora sim, metaforicamente.
Rabisquei um pedido de desculpas num papel, perfumei-o com uma fragrância que me tinha sido oferecida por ela, – amorosa, por sinal – e deixei-o enrolado no caule de uma rosa, no correio de casa dela. Escrevi em todas as pétalas o nome Lara, só para que não houvesse engano no destinatário. Levei um coração com autocolante e coloquei-o na chapa do correio, selando-a. Por baixo, escrevi, a giz, Rasga-me o coração, mais uma vez. Hoje vai valer a pena. Fui embora, certo de que a reacção seria a do costume. Mas conseguiria parar de tentar, algum dia? Nunca soube. Ainda hoje é o dia em que não sei.
Não sei como reagiu, na altura. Se barafustou de raiva, se sorriu ou se, simplesmente, ignorou mais um grito em surdina que lhe enviara.
Sei, isso sim, o que estava escrito naquele papel.

Meti mais um cobertor na cama. Tinha frio. Por mais que me enrolasse para dormir nunca estava bem. Estou a fazer uma playlist daquelas músicas que tanto gostas para ouvi-las uma a uma. Ainda falta qualquer coisa.
Não tenho fotos tuas nas paredes, mas o teu nome ocupa as quatro, de cima a baixo. Fecho os olhos e sorris, com aquele sorriso parvo que me apaixona. Já é tarde, deduzo que não saias tão cedo. Muito menos com esse sorriso. Também não faço grande esforço.
Pinto o fundo de violeta e coloco-te no centro, nua. Detestas violeta, eu sei, mas sempre achei que te ficaria bem. Aliás, tudo te fica bem.
Ouço sempre o teu característico raio de cama minúscula, gosto de dormir à larga. Eu não me importo, quanto menos espaço para nós, mais nos enroscamos. Há algo melhor que adormecer nos braços de alguém? Reparo: há algo melhor que adormecer nos teus braços? Há. Adormeceres tu nos meus. Nem com bebés teria tanto cuidado. Ver-te dormir ilumina-me, sentir o teu respirar leva-me a lugares que nem sei definir. Lugares pintados por ti, mesmo sem o saberes, dignos de exposições em galerias famosas. Era desses lugares que caía, abruptamente, quando, de manhã, saías de mansinho. Lembro-me dos braços leves com que ficava, do espaço enorme, dos lençóis todos meus. E do frio. O frio que ficou da última vez que saíste e que teima em nunca mais ir embora. Já percebi, Lara. Por muitos cobertores que meta naquela cama, ela vai sempre parecer-me gelada, porque o frio não se manifesta no meu corpo nem passa pelos lençóis, ele está sentado no meu coração, em greve por te ter visto partir. Volta rápido, é a cama que está a pedir.

Beijo no cabelo,
Pedro

domingo, 6 de dezembro de 2009

Amores e desamores

Há uma dicotomia que gostava de explorar aqui, de um prisma diferente do que foi feito já inúmeras vezes. Analisemos o Amor Trágico e o Amor Feliz - chamemos-lhe assim. Peçam a um escritor para escolher e que venha o Amor Trágico numa bandeja. Ele não quer saber se têm jeito, se não têm. Ele quer é que chorem baba e ranho, e despejem a raiva numa folha de papel, numa guitarra, numa tela ou até num jogo de futebol. O Amor Trágico passa o dia a ouvir rádio para encontrar uma letra de uma música com que se identifique; lê livros até cansar a vista para se resumir a si próprio numa frase; procura em todo o lado pequenos pormenores que lhe provem que não está só no mundo, na sua grande e inefável tristeza.
O Amor Feliz não. O Amor Feliz é um íman. Atrai tudo o que o Amor Trágico faz questão de dificultar. Não enche medidores de desabafos, não fertiliza o negro e o azedume que paira na criatividade, põe-te um sorriso na cara e ainda faz os dias mais bonitos. Não pede nada em troca e ainda te cumprimenta todas as manhãs.
O Amor Trágico faz chover no Inverno e no Verão. Escolhe roupas mal combinadas, obriga-te a ir com elas e a arrepender-te a meio caminho. Leva-te a escolhas mal ponderadas e a arrependimentos de palmo e meio. Traz-te sem nada na mão e deixa-te à porta de casa sem chave para entrar. Pior, tu gostas. E repetes. Não queres sair da rotina porque é aquela a que estás habituado.
O Amor Feliz deixa-te tão hipnotizado que nem reparas como chegas a casa tão depressa. Esqueces-te da chave mas a porta está encostada, por sorte. Ficas com desejo de Bolo Rei e, por sorte, está um por abrir na mesa da cozinha. Vais-te deitar na cama feita com lençóis lavados e, por sorte, já aberta. No fim, nem te ocorre pensar sobre a sorte que tiveste, durante o dia.
O Amor Trágico faz-te passar Noites Difíceis, culpa-te a ti e os outros por não conseguires adormecer, e ainda define o despertador para te acordar mais cedo que o previsto. Despenteia-te da forma mais irresolúvel possível e desenha-te as maiores olheiras da turma. Chama-te tudo, menos pelo teu nome. Tu agradeces. Mas não adormeces. Querias. Mas não adormeces. Direita, esquerda, direita outra vez, desespero e uma volta na varanda. O quente da cama ajuda. O Amor é que não.
O Amor é fodido, dizia o MEC. Quem o fodeu fomos nós, digo eu.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Thougts of a dying atheist

Dirigiu-se à varanda, abriu as portadas e respirou o ar gelado. Não estavam mais que cinco graus, lá fora, e o grito da noite era um voto de silêncio. Acendeu o último cigarro, esfregando as mãos uma na outra para enganar o frio. Tirou da mochila a máquina fotográfica e registou a cara da cidade, naquele instante, vezes sem conta. Tantas vezes já o tinha feito e tão poucas lhe soube que se estava a repetir. Havia algo ali de difícil descrição. Algo a pedir o uso do velho ditado, uma imagem vale por mil palavras. Ao fim de cem disparos considerava-se na posse de cem mil palavras. Escrevera uma enciclopédia sobre ela, pensou. E mesmo assim não bastava. Queria mais. Queria todas as páginas do universo manchadas com a tinta da sua caneta velha. Queria tatuar aquela cidade em todos os cantos do planeta, para que este se apercebesse que, apesar de pejado de inúmeras outras, possuía apenas uma assim. E que apenas aquela lhe fazia ganhar - nunca perder - a noite a fitá-la, horas e horas, na esperança de a descrever exactamente como a vê. Chamar-lhe-iam louco, no dia em que o fizesse, caso o lessem. Considerar-se-ia louco, se não reservasse uma vida para o testar.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

MUSE!

Só para vos causar inveja, fui ver Muse, ao Pavilhão Atlântico, e foi - permitam-me que abrevie a descrição - indescritível!
Para continuar a inveja, estava na frente, ao centro, da plateia, a uns 10 metros de distância do super Matt.
E sim, eu fui um entre aquelas centenas de pobres coitados que apanharam chuvada atrás de chuvada durante o fim de tarde, enquanto esperavam em filas desordenadas pela abertura das portas.

Pontos altos: A entrada, a New Born, United States of Eurasia (que se transforma, ao vivo, claramente), Stockholm Syndrome e o fecho, com a inevitável Knights of Cydonia.
Faltou a Bliss, Butterflies and Hurricanes e a Cave, entre outras que não tinha sequer esperança que tocassem.

De resto, 'See you all next year, Portugal!'


Para quem quiser ver a intro do concerto, que foi fenomenal, está aqui.

PS: O vídeo não foi gravado por mim. Com tanto gajo suado, musculado e exaltado à minha volta, se sacasse o telemóvel do bolso ainda acabava na cabeça do Matt.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Um anexo político

Mais uma vez todos os partidos ganharam. O PSD perdeu 20 câmaras, mas ficou ainda com mais 8 que o PS. Desta forma o PS conseguiu mais 20 câmaras do que tinha e teve mais votos que o PSD, por isso ganhou. A CDU ficou com menos 4 câmaras, mas conseguiu ter mais que o CDS e o Bloco de Esquerda. O CDS ficou com as mesmas câmaras e por isso não perdeu. O mesmo sucede com o BE. No entanto, em meu entender, o grande vencedor foi o povo, que começou a entender que promessas de vento e bolas de espuma não é propriamente o que interessa. Como não há regra sem excepção, Isaltino e Valentim continuam no poder.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Borboletas

Acende-se um candeeiro na rua escura, iluminando o caminho que percorres, taciturna. Fito-te, sentado no banco do jardim. Conto os segundos - que fazem o velho truque de parecerem horas - que demoras a alcançar-me. Os espaços verdes que vais ultrapassando perdem relevância em tua função. Tenho visão afunilada, quando nela estás centrada, a paisagem tende a escapar-me. E tenho-me como bom observador. Acenas e sorris, e assim me fazes a mão, apoiada no banco, tremer. Talvez o banco tenha tremido, talvez tenhas reparado, evoluíste o sorriso para riso, e a minha ansiedade em felicidade.
Dás-me um beijo com carinho, como as mães dão, perguntas-me se está tudo bem. Agora está, apeteceu-me segredar.
O candeeiro que tinha renascido voltou a sucumbir, entretanto. Pergunto-te se foste tu, farto de saber que se apagou por estar longe de ti. Resmungas qualquer coisa imperceptível, e, reparando na minha cara, ris-te. Não percebes nada, tonto, ele tem ciúmes teus. Quis chamar-me à atenção quando passei por ele, porque sabia que eu vinha para aqui. Os candeeiros são tramados. Tramada estás tu, depois de me contares esse segredo. Tu e o candeeiro.
Desenhei uma serra no horizonte e mil vivendas com luzinhas, cheias de borboletas - já tinhas visto tantas borboletas a esta hora? Nem eu - para dar um toque romântico à noite. Meti uma lua cheia, bem grande, e 130 estrelas no céu. Contei-as duas vezes, só para ter a certeza que eram mesmo 130. Dizem os velhinhos que contar estrelas provoca o aparecimento de cravos. É por uma boa causa, arrisco. O céu azul petróleo e o banco verde, onde estamos, de madeira gasta e suportes velhos. Ameaça ruir a qualquer segundo, mas confio que a resistência nos aguente, afinal de contas não somos assim tão pesados. Senhor Banco, gostávamos de passar uns minutos aqui sentados, será que nos permite? O candeeiro meteu cunha para que eu me partisse, mas não vos faria tal coisa. Pisco o olho ao candeeiro e ficamos sentados, horas e horas, dias e noites, anos e vidas. Levantamo-nos, dormentes, e guardas-te por baixo do meu braço em direcção a casa. Ao passar pelo candeeiro aproveito para lhe deixar um pontapé, pequenino, só a tirar um bocadinho de tinta. Rui, comporta-te. Um beijo, agora, só para ele ficar irado, pode ser? Se fica irado por um beijo, vai sofrer a vida inteira. Isso é uma ameaça? Não, é uma inevitabilidade.

sábado, 3 de outubro de 2009

Sou de Magogo

Eu tentei que fosses incomensurável, sublime. Tão graciosa que doesse a garganta ao gastar o teu nome numa esplanada de café. Um dia vi-te sorrir e prometi-me nunca mais esquecer-te. Quis o fado privar-me a vida, o sorriso e o meu rosto. Tira-me tudo, menos o Amor, retorqui. Falei de pé, elegante e seguro, com voz austera. Entendeu-me perfeitamente, compreendia a minha situação, mas vociferou que os desígnios do Amor são incompreensíveis para nós, meros mortais, que talvez um dia os açambarquemos. Até lá, navegaremos. Muni-me de barco e vela, remos para dias calmos e pachorrentos. Coincidências, concluí. Tudo nasce de coincidências. Se tudo nasce do mesmo, não será paradoxal deduzir que é coincidência tudo nascer de coincidências? Calhou ver-te, falar-te, olhar-te, desejar-te, tocar-te, beijar-te, amar-te e chorar-te. Será também coincidência tudo acabar em arte? É esta arte que cria o Amor, vinda não se sabe de onde, provocada não se sabe porquê, que embala os dias tristes e exalta os dias bons, como um melhor amigo que está sempre lá, que não falha ou desilude.
Um dia vi-te sorrir e prometi-me nunca mais esquecer, não a ti, mas à parafernália de sensações eléctricas com que me bombardeaste. Pediste-me um segredo, escondi-o atrás da orelha: Sorri, pois quando sorris o mundo sorri contigo. Chora, e parte dele não parará de rir.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Old School

Os gajos de traje ficam todos bons. Isso é ponto assente. Quando uma pessoa os vê de roupa normal é que vê se eles realmente prestam ou não. Tu não deixas mesmo nada a desejar! Pois não. De dia era diferente. Era. És o melhor gajo de Coimbra! Só de Coimbra? Do mundo! 'Tá melhor. Mesmo assim já houve melhor. Onde vais agora? Dançar contigo. Vais? Então vamos. E fomos. E já estou a ver as minhas amigas todas roídas p'ra te conhecer. Mas eu não deixo. Ficas aqui comigo. São bonitas? São. Não eram. Mas podiam ser. Pena. De qualquer maneira, esta é a Andreia. Esta a Joana. Esta a Inês. Muito giras. Cof. Vamos ficar aqui a fazer de conta que elas são fixes muito tempo? Não ficamos. Nem nos ficamos. Acaba a música? Desde quando? Fazemos nós. Não posso beber muito senão raptavas-me e aproveitavas-te de mim em tua casa. Querias. Queríamos? Podes sempre fingir e fazemos as coisas na mesma. E ria-se. Já tinha bebido o suficiente para ser raptada. Rapto? Estou de rastos. Também. Vamos ser ombros amigos. Já somos. Canta Red Hot. As minhas amigas também cantam. Chamam-lhe cantar red hot por estes lados? Se chamarem, alinho. A música já parou à um pedaço. Já temos de ir? Ficamos cá para amanhã. Mi casa, su casa? Querias. Bastante. És um gajo do caralho.

domingo, 20 de setembro de 2009

Sim ao não, não ao sim. E vice versa. Hmm.

Eu já sabia. O pressuposto - adoro esta palavra - de se saber algo só pode estar relacionado com duas componentes: factos ou intuição. Gosto dos dois. Conjugados ainda melhor. Conjuguei-os no dia em que te conheci, visto que a intuição que desenvolvi na minha cabeça era de que viraríamos facto. Soube no momento em que te disse olá, naquela viela mal frequentada e no momento em que te disse adeus, no mesmo dia, com saliva tua digerida, perto dos bancos do mercado. Chamaste-me lírico e eu ri-me. Disse-te que ainda haveria de casar contigo e riste-te ainda mais que eu. Um dia vamos mesmo casar, e vou para o altar com um papel amarrotado no bolso, abri-lo-ei depois de dizer o sim e mostrar-te-ei a palavra lírico, em maiúsculas. Cross my heart. Quando te vi não consegui dizer não, aguentas todos os sim que guardei nas gavetas? Aviso, desde já, que são seis - as gavetas. E bem grandes. Cobra-me, gasto um sim para te confessar que sou teu. Gasta um teu para dizeres que me aguentas. Olá, o meu nome é Rui e vim de longe para te encontrar, queres gastar uma vida comigo? Ou duas, se tiveres tempo. Diz que sim e sê feliz por pouco tempo. Pouco tempo? Lembra-te, contigo a vida passa a correr, estou pronto para a aproveitar.

A long long time ago

Doíam-me as pálpebras do tempo que levavam encolhidas. Abri o livro enorme que pairava na mesinha de cabeceira, sem medo e confiante. As páginas foram ficando turvas à medida que as folheava, comecei a reler parágrafos que ficavam perdidos a meio. Não tardou para que cedesse a saltar palavras, frases e parágrafos. Perder-me na pontuação e na gramática e acabar confuso com os recursos estilísticos. Não tentava dissecar as verdadeiras mensagens por trás de um simples monólogo. Deixava-me ir, sem forças para mais. Na última página, na última palavra, baixei os braços e deixei que o livro me escorregasse, lentamente, das mãos. Sem absorver metade da mensagem, tinha a história presa na cabeça. Era tão complexa que mais parecia ter acabado de ler uma obra filosófica. Mas não, era simples e delicada. Longa, dramática e extenuante. Fechei os olhos e vi o texto numa tela gigante, a cores. As palavras deram lugar a vozes e a imaginação passou a ser real. Peguei em mim e fugi. Guardei-me no quarto, fechei-me a sete chaves e parti três apoios do tecto. Desabou. Deixei que fosse caindo, peça por peça, castigando-me aleatoriamente. As feridas jorraram sangue que me escorria face abaixo. Não me cobri, não me escondi, não fugi. Deixei-me ficar, enquanto sentia todo o betão a ceder, vagarosamente. Senti um braço, pequeno, puxar-me. Anda, fica aqui ao lado, vais ver que acalma. E acalmou, como por magia. Desinfectou-me com álcool e coseu-me as feridas. As cicatrizes ficarão para sempre. Só para me recordar que já lá estavam antes. Descansa, foi uma noite difícil, és profissional nisso, lembras-te?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Carlos Cruz, por exemplo

Há dias em que acredito quando me dizem que podia ter qualquer coisa no mundo, outros em que acredito no contrário - embora isso nunca o digam (mera questão de respeito, presumo). Que seja a teoria do falhado, mas por muita boa aparência e background económico - chamemos-lhe assim - que um gajo tenha, as coisas não caem do céu. E a palavra coisas pode facilmente ser substituída por termos menos correctos que não se coadunam com a elite linguística por que sempre primou este blog.
Foda-se, vocês bem sabem que eu acho que os feios estão desgraçados, mas quem não articula um verbo e um substantivo está perto disso - de ser feio, entenda-se. Está menos mal, mas está perto.
Jesus descia à Terra e fazia-me optar entre ser bonito, podre de rico e burro, ou com um QI à Einstein com... vá lá, a aparência do mesmo, para abreviar a descrição. Eu quero bem que se fodam os avanços na física quântica, o que não faltam são batas brancas a descobrir o que me levaria uma vida a investigar. Muito mais interessante seria ir tomar o pequeno almoço ao Dubai e ir cagá-lo à Polinésia Francesa. Na mesma manhã. E enganar-me no quarto de banho e ir parar à cozinha, visto que seria burro, encontrar três empregadas soviéticas ex-modelos - as ex-modelos têm qualquer coisa, não sei - prontas a expulsar-me e acabar a comprá-las como escravas sexuais. E durante o acto cagar o resto do pequeno almoço e o mojito que tinha enfardado a seguir - note-se que o enfardado advém da linguagem rude que deveria ter, como burro que era (e dizem vocês: mas quem tem linguagem rude não tem necessariamente de ser burro. Tem tem, foda-se. Não basta sê-lo, é preciso parecê-lo. Quando um gajo vê um imbecil a dizer, por exemplo, disseste-zia, não deduz que ele trabalhe num laboratório de investigação da NASA. A não ser que faça a limpeza das casas de banho. Fim de parêntesis.), na poltrona branca da suite virada para um paraíso qualquer, por mera confusão com uma sanita. Era provável que soltasse um riso desprovido de inteligência e elas ficassem a olhar para mim. E depois continuavam o que estavam a fazer, com mais três notas de quinhentos euros entaladas num sítio qualquer, só para não fazerem caso.
Ou isto ou passar os dias na minha cadeirinha, com os meus livrinhos e tubos de ensaio, a realizar experiências para tentar livrar o mundo da sida (ou dos cães), com os meus amiguinhos investigadores - note-se, homens, sempre rodeado de homens, porque os inteligentes vêm-se gregos com as mulheres, logo, juntam-se e formam os clubes de leitura e essas merdas - e de repente um de nós saltar de alegria e desatar a dizer eureka para a frente e para trás, como o ídolo Einstein, e vai a ver-se e descobriu-se... uma possibilidade de atenuante para o vírus duma doença que não interessa a ninguém. A notícia nem sequer chega a passar em rodapé no jornal da noite (já as que passam... 98% da audiência ignora, imagine-se as que não passam), mas ganhamos o dia, festejando com uma actualização do twitter a contar o sucedido, cujos seguidores (ainda mais bichos-do-mato que nós) nos dão os parabéns. É a loucura.
Importante: qual é o ponto de tudo isto? Eu, se fosse gaja, preferia ter um filho dum gajo bonito e burro, a um inteligente e feio.
Primeiro, porque - não sei se estão familiarizados com o conceito de filho, conjugação de adn, hereditariedade e afins - os putos tendem a ser uma mistura dos pais (e avós e tios e primos e por vezes do carteiro), logo, se vocês, gajas, forem inteligentes, escolhem o gajo bonito e burro e rezam para que haja possibilidade de ele ser bonito - do pai - e inteligente - da mãe. Senão, partindo do princípio que querem engravidar do Einstein, ele sairá feio com toda a certeza (nenhuma gaja gira quer foder o Einstein) e poderá haver a possibilidade de sair burro. Imaginem a dor.
Ou então nasce preto e ainda acabam a levar porrada do suposto pai por ter assim descoberto aquela noite de copos passada na Amadora. Histórias.
Resumindo, o meu conselho é... querem pinar, pinem os giros. Querem casar... casem com os giros na mesma. Se for com um rico e burro façam-no em comunhão de bens. E mesmo que os putos saiam mesmo burros, caguem nisso, quem quer putos por perto quando se pode tomar o pequeno almoço no Dubai e ir cagá-lo à Polinésia Francesa?

sábado, 22 de agosto de 2009

Back to basics

Como podem deduzir, sobrevivi. E voltei!
Definição de férias, segundo o dicionário Priberam:
Interrupção relativamente longa de trabalho, destinada ao descanso dos trabalhadores em geral.
Não percebo a parte do descanso, visto que parece que cheguei com mais 20 anos em cima, mas tudo bem.
De resto, digam-me vocês, daqui para a frente, se os neurónios se foram de vez, ou nem por isso.
Tinha muitas saudades vossas, mas - perdoem-me a sinceridade - ficava-me pela interrupção relativamente longa de trabalho mais uns belos tempos. Enfim, duty calls.
Beijinhos e abraços.


Ah, surpresa, até no paraíso tropical para onde fui consegui ser abordado por causa do blog, é por estas e por outras que decidi que, a partir de agora, quando começar a escrever um texto, vou fazê-lo como se Portugal inteiro me fosse ler a seguir. Obrigado Jesus All Mighty por estas pequenas prendas.

Gays e Pretas

Conversa à mesa, hoje, cá por casa. Nota: eu não estava à mesa, estava por perto, mas ouço tudo. Se o meu filho fosse gay, ou namorasse com uma preta, eu não ficava nada contente, nem sei se o apoiava. Mas que atitude vem a ser esta? Primeiro, se eu fosse homossexual não era gay, era paneleiro, porque paneleiro é de homem, gay é de rabeta elitista que acaba por meter tudo que encontra na cavidade anal. Depois, namorar com uma preta é daquelas coisas que, vá lá, sempre foi um fetiche meu – caso Jesus, em troca, me tivesse oferecido o extermínio da raça negra já pensava melhor. Isso e apanhar alfinetes com luvas de boxe. Por último, não ficar nada contente e não saber se me apoiarias, cara Mãe, é, no mínimo, ridículo. Pensava que estava numa família de altos valores, cuja sanidade mental está entre os pilares da nossa estrutura. Parece que não. Eu ensino: Se o teu neto – sim, porque agora tenho a certeza que vou ter, pelo menos, um filho, se a Solange F está grávida e só se mete no esfreganço, eu já devo ser pai de gémeos por esta altura. Eu e todos, cuidado. Voltando ao neto: Se o teu neto algum dia virar paneleiro – porque ele gay nunca vai virar -, a primeira coisa a acontecer é, provavelmente, uma queda acidental pelas escadas abaixo. Sem direito a cuidados hospitalares. Talvez alugasse um africano - um maliano parece-me bem, são indivíduos com aparência de quem tem o que é preciso - avantajado e o fechasse numa divisão pequena e escura com ele, de maneira a que ele ficasse com tanta aversão a pilas que nunca mais quisesse tocar em nenhuma. Muito menos com o rabinho, coisa que eu pagaria com prazer ao maliano para desfazer a seu belo prazer. E com tal medida fazia um dois em um: nem paneleiro, nem ideias de ter relações com pretos. Caso a medida não resultasse, voltar a repetir até resultar. Sei que por vezes sou um pouco brando nestas coisas, mas é a minha forma de agir, acredito sempre que as pessoas podem mudar através de conselhos e demonstrações práticas. Acredito também que o meu pai, não se tendo expressado de forma tão correcta como a minha mãe, possa apoiar a minha visão das coisas, e talvez até já ter sonhado em fazer-me isso caso eu fuja para o darkside. No entanto acho que a vontade que ele teria em fazer-me isso – caso eu virasse – é suplantada pela enorme crença de que eu nunca me metia nessas coisas. E nisso, como em tudo, ele tem razão. E se é o meu pai a achar, quem sou eu para contrariar?

Run, wild and free

Quis escrever-te o poema mais bonito que alguma vez lerias. Sabes o quão frustrante é não o conseguir fazer? Queria fazer-te sentir metade do que me fazes sentir, sem dares por coisa alguma. Que visses o mundo pelos meus olhos, só para que confirmes que o acho bonito por te albergar nele. Tu não acreditas, (mas) é verdade. Devias. Devias acreditar nas minhas visões e ambições, nos meus desejos e projectos, que para onde quer que fluam, desaguam sempre em ti. Eu sou o rio que corre para junto de ti, de caudal apressado e sentido único, da nascente à foz, porque o tempo é pachorrento quando não estás comigo. Inundo-te à minha chegada, banho-te o rosto e despejo-te a ansiedade que trouxe. Desculpa-me o mau jeito, mas é isto que me fazes. Não tenhas medo de nadar em mim, a corrente é forte mas tens pé em todo o lado. Certifico-me disso, todos os dias, juro. Sou rio para que possas chorar as lágrimas que quiseres, encarrego-me de as misturar na corrente, ninguém notará quando estiveres triste. Não preciso que acredites no rio que sou, basta-me que te deixes levar por mim, prometo que te levarei a bom porto, sempre segura, sempre bonita, sempre feliz.

sábado, 1 de agosto de 2009

De férias

...desta vez eu, não o blog. Ou melhor, o blog também, visto que ele sem mim não anda. A não ser que encontre um espaço internet no paraíso turístico para onde me dirijo nos próximos 15 dias, aí sim poderei abdicar do calor e da noite para vos escrever até não mais poder. Ou então não, mas juro que me vai passar pela cabeça. Farewell, my friends, prometo voltar com cirrose.
Este post serve para evitar a rotina que ocupa os vossos dias: fazer refresh neste link.
E que dediquem mais tempo a alguns como este.

Beijinhos e abraços, e depois não digam que não sou amigo.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Esperas e planos

Contei as horas passarem, enquanto olhava a luz esfumar-se pela janela com a cortina aberta. Irrompeste da noite, fazendo do quarto escuro o local mais brilhante da cidade. Escondi-me, no rasto de borboletas que deixavas pintadas no chão, a cada passo. Eram azuis, bem claras, e esvoaçavam tristes, como se deixarem de fazer parte de ti fosse a maldição superior que lhes tinha sido reservada. Com inveja, olhei a cadeira onde te sentaste, vagarosamente, de ar cansado. Despes as angústias do dia-a-dia e escolhes a expressão facial perfeita para me tirar um sorriso – ainda maior. Parar o olhar em ti, nestes momentos, é tão sublime que me faz querer passar horas a antecipar o toque da tua pele. Talvez para saber melhor, talvez de tão bonito quadro se tratar. Um dia vou comprar-te um banco e uma tela, e ficarei uma semana a ver-te pintar, de lençol entrelaçado no corpo. Escrever-te-ei todos os dias, enquanto te fito, e obrarei um best-seller, um elogio ao amor. Levantas-te com graciosidade e em passos pequenos – pequeninos - aproximas-te de mim. Deitas-te, transformas a cama em rede dupla, presa a duas palmeiras numa ilha exótica, e ficamos a coleccionar queimaduras solares em plena madrugada, enrolados na confusão de membros mais mimada que encontramos. Corremos o céu a reservar constelações, a alugar pedaços de lua e a projectar viagens a planetas distantes. No fim, não temos absolutamente nada do que planeámos, durante a noite, mas vamo-nos tendo, e enquanto assim for, não há um despertar sem que olhe para o lado e me cause a melhor disposição da vizinhança. Eles não sabem o meu segredo, nem vão saber, não abdico dele por nada. A culpa é tua. Sempre tua.

Troglodices

Rasgas a noite em tons delicados, e deixas um rasto brilhante atrás de ti, qual estrela cadente. Embrulho-te a face com as mãos, guardo-te em segredo e sussurro - não fujas, sim? Crava em mim o teu perfume, e deixa-me na beira da estrada, sentado, a inspirar-te. Prometo não fugir até que um dia voltes, nem que fiques longe muito tempo. Nem que demores um vida, vou tentar ser simpático quando tocares à campainha - talvez resmungue um pouco e faça a primeira birra. Mas diz que não, que não vais esperar pela velhice para dizer que sim. Diz-me agora o que disseste ontem e o que reafirmaste hoje. Conta-me histórias e perde-me em memórias, enche-me de sorrisos e beijos e deita-te comigo, que eu protejo-te do frio do Verão. E relembra-me amanhã, que as palavras perdidas nos dias de hoje, estão guardadas na caixa vermelha dos melhores momentos do passado. Se algum dia eu te faltar, não temas, ter-me-ás onde sempre me tiveste, bem no centro da metade esquerda da caixa torácica. Tranquei-me dentro de ti. Agarrei-te. Escondi a chave bem longe, vi-te e sorri. Não te largo nunca mais.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Auto-Broche

A melhor fonte de teorias para vomitar no blog é, claro está, a conversa de gajos. Acontece que há algo de que já me apetecia falar à muito tempo, por cá, mas, pronto, nunca aconteceu. Será então preenchida a lacuna. Falo, como talvez tenham deduzido pelo título, do sexo oral auto induzido. Impossível, dizem vocês. Falso, respondo eu.
Era eu ainda um jovem catraio, quando surgiram rumores de que o guitarrista do Marilyn Manson teria retirado uma costela para poder - e cito o que se ouvia na altura - fazer um broche a si próprio. Ora um boato destes segue o caminho de todos os boatos de coisas escandalosas - passa por verdade. Depois uma pessoa cresce e pensa de forma diferente: Pá, e quando um gajo era puto e acreditava naquela merda do gajo que tirou a costela p'ra se brochar? Só mesmo gajos como nós para acreditarmos nisso... Mas lá que era uma coisa de rei, isso era.
Era eu ainda um jovem, também, quando comecei a perceber que o facto de contorcionistas estarem na televisão e a minha pila crescer poderia estar relacionado. Percebi, depois, que elas devem fazer sem problemas a tarefa a que o tal guitarrista se propunha. Ou seja, está provado que não é impossível.
Melhor: para que raio uma pessoa quer fazer oral a si próprio? Pessoal, que seja a última vez que me fazem uma pergunta tão idiota. Respondo-vos com uma pergunta:
Para os gajos:
Preferem uma punheta ou um broche?
Para as gajas:
... Não vou ser porco, acho que deduzem. Para quem não deduz, a pergunta acaba em minete.
E se por um lado há muitas raparigas que não simpatizam muito com o minete, garanto-vos que não há gajo que se arme em esquisito com o broche. Se o vosso mais que tudo não gostar muito, das duas uma: ou está a mentir (paragem cerebral, certamente) ou vocês é que não gostam e ele é manso ao ponto de não conseguir dizê-lo.
Isto leva a outro tema frequentemente discutido, e que está intrinsecamente ligado ao que tenho vindo a dizer desde à muito tempo para cá: na masturbação podemos - e cito um caro colega de curso meu, famoso por certas expressões - foder as melhores gajas do mundo, basta querer. Agora digo eu: imaginem meter as melhores gajas do mundo a fazerem-nos um broche! Já se consta que, caso algum dia seja possível tal prática, os relacionamentos com o sexo oposto ficam em vias de extinção. É como convidarem um gajo para ir jogar futebol e rejeitar por ter o PES em casa. Não é a mesma coisa, mas não deixa de ser futebol.
O grande entrave à aceitação desta prática - há sempre um senão - é, vendo bem, o mais óbvio: teríamos, nós, gajos, de fazer um broche. Tudo bem que é a nós próprios, mas um broche é sempre um broche. O melhor pensamento para ultrapassar esta barreira seria o de que já batemos punhetas a nós próprios, a partir do momento em que isso é aceite como um acto másculo, porque razão fazê-lo com a boca não o seria? (Hesitei bastante em escrever o final desta última pergunta, a expressão fazê-lo com a boca estava dar-me uma certa volta ao estômago.) Isto para não falar de que depois seríamos todos catalogados em dois tipos de gajos, os que cospem e os que engolem. (Deus, ajuda-me) Ok, vou parar com estas teorias, estou a sentir-me homossexual. Viram? Escrevi homossexual em vez de paneleiro. Paneleiro! Fala mas é de gajas.
Última coisa, em defesa das mulheres: então e o pipi, pá? Não iam vocês sentir falta dum pipi, sempre a levar com broches e punhetas? Não posso responder a essa pergunta com bases científicas visto que não sei de casos de pessoas que só tenham tido broches e punhetas auto induzidos durante um período alargado das suas vidas - só punhetas conheço muita gente, mais de meio mundo, provavelmente -, no entanto se é certo e provado que não vivemos sem vocês, e vocês sem nós, mais verdade é ainda que não vivemos sem o pipi, tal como vocês também se vêm aflitas para sobreviver sem a pila. Por isso não temam, por muitos estratagemas que o cérebro masculino magique para tentar criar uma certa independência vossa, eles esbarrarão na eterna necessidade de vos ter por perto, para o bem ou para o mal, para a paz ou para a guerra, para o broche ou para o minete.
De qualquer forma vou tentar aprofundar os meus conhecimentos com contorcionistas, para saber mais sobre a temática do sexo oral, para poder - apenas e só - ter novos argumentos quando tal assunto for novamente puxado em discussões.

domingo, 12 de julho de 2009

Conselho

Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar. Estuda, já está quase a acabar.



E a frase votada como a mais proferida nesta época é... Para o ano é que vai ser!

Mas vai ter de ser, mesmo.