sábado, 7 de julho de 2007

Boomerangs

Ter-te por perto faz pior que dormir ao som das obras. Daquela vez que encontrei a Ângela com duas amigas achei piada. Disse a mim próprio que ia ser daquela vez. Que tinha de ser. Que não podia adiar mais. Há dias em que um gajo se sente confiante, mais vale tentar a sorte nesses. A conversa nasce animada, a vontade de avançar a noite e ir já para o quarto é grande, mas vamos lá trabalhar no assunto, é capaz de valer a pena. Falas-me tão perto que já me sinto meio bêbedo de estar a inspirar o teu hálito a vodka melão. Óptimo, não preciso de gastar dinheiro a emborrachar-te, já andou alguém a fazer metade do trabalho por mim. Obrigado amigos da Ângela, aos quais nunca tive oportunidade de agradecer. Onde vais? Vou dançar contigo. Ai vais? Vou. Então vamos. E fomos. Tanto não querias que as tuas amigas me conhecessem que toda a gente me ficou a conhecer por O Amigo da Ângela. Senti-me desejado no meio de tanto tubarão. Pena era que mais de metade dos tubarões metia medo ao susto. Para quem nunca se deu conta da figura que fazemos quando estamos a dançar... tentem dançar sóbrios. Eu tentei uma vez. Continuando, estava já a ficar sóbrio (e consequentemente a começar a aperceber-me das minhas qualidades ao nível da dança), tinha de ir recarregar baterias urgentemente. Ainda para mais, quando se está a dançar com alguém e a dança não começa a desenvolver... Das duas uma, ou a gaja não quer nada de mais, ou deve achar que nós dançamos porque dançar é fixe. Gajas, entendam uma coisa, nós só dançamos para chegar a outros fins. Basicamente, o que quero dizer é que só fui dançar com a Ângela para a levar para casa. Agora, quando se põem com coisas de dançar à distância... está tudo fodido. Digo-lhe para irmos beber qualquer coisa, pego-lhe pela mão, 3 finos depois voltamos ao sítio, confiança de volta ao lugar natural. Nem se espera muito tempo, começa a dar a So sexy (ajuda divina) e os contactos mais íntimos sucedem-se. Claro que umas mãos determinadas auxiliam sempre a situação. Depois disto tudo chegas tu, com esse ar de cocó enjoado. Vou estar a aturar-te e ás tuas divagações sobre o que somos ou deixamos de ser? Era eu quem costumava trazer essas filosofias na mochila, lembras-te? Bem dizes que muita coisa que tens a sugaste de mim. Sugaste muita coisa, realmente, mas podias ter-te limitado às mais íntimas. Nunca vi miúda tão mal agradecida. Fiz, disse, caguei e toca a andar. Era o teu estilo. O meu era mais soft, género it's all good. Até que o tempo se encarregou de fazer das suas. Força do hábito, começaste a perder aquela violência inicial. Força do hábito, comecei a deixar o lado calmo em casa. O fim é tão previsível que tenho preguiça de o contar. É por isso que ter-te por perto é pior que dormir ao som das obras. É como voltar a ter algo que não preciso, que não me faz falta, que não me nada. Mas que mesmo assim... quero. Mudam-se os tempos... as vontades, deixem-nas lá estar quietas.

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