Passam vinte anos a correr. Ainda no outro dia nos encontrávamos quase todas as noites, nos nossos tempos de estudantes universitários. Namorávamos na casa um do outro, perdíamos a conta aos jantares, ás saídas, ás festas, aos passeios. Corríamos as salas de cinema, as praias e as praças pelo país fora. Víamos juntos o pôr do sol com uma garrafa de martini e fazíamos ciúme ao mar por conseguirmos ser mais bonitos que ele. Os planos para o futuro eram zero. Era ir vivendo. Depois vê-se no que dá, não faças planos, dizias tu. Mas eu fazia. Sempre fiz. Queria casas, carros, dinheiro. Aviões, ilhas e clubes de futebol. Tudo o que o dinheiro pudesse comprar e o que a vontade se lembrasse. E nós. Cheios de putos e amor. Eu de fato Armani e tu de vestidinho Versace. O que te ofereci quando fizeste 27. Quando o vestiste conseguiste ficar mais bonita do que da primeira vez que te vi. Todos os dias nascia uma meta nova na minha cabeça a concretizar
daqui a uns anos. Hoje, olho para trás e sorrio. Não é normal uma pessoa gostar tanto de ter vivido como eu gosto. Ainda continuas aqui perto, como da primeira vez que nos cruzámos. E consegues gostar mais de mim do que ontem. E ontem já gostavas muito. O Pedro e a Maria já são grandinhos, o orgulho dos papás. A casa é linda. Como tínhamos projectado, quando eramos putos com ideias malucas. Sabes o que sabe melhor nisto tudo? É saber que quando parar de escrever estás à minha espera na sala, para irmos à festa que o Pedro organizou para mim, por eu ser
o melhor do mundo, e isso ser mais que suficiente para se fazer uma festa. Esse vestido Versace mata-me. És a melhor quarentona do mundo. Tenho de ir ter contigo.
1 comentário:
a história da vida de muita gente, de muitos de nós.
Enviar um comentário