terça-feira, 11 de setembro de 2007

Diário boémio

Um dia saí à noite sozinho e sóbrio, para um sítio que não conhecia, só para me sentir desconfortável. Propus-me voltar para casa só depois das oito da manhã. Um desafio dos grandes. Como diz um colega meu, levei a minha melhor roupa. É um desastre. Tentar não passar despercebido é uma tarefa bem mais difícil para um gajo do que para uma gaja. Os gajos são todos iguais quando saem à noite, calças de ganga e t-shirt ou camisa e lá vão eles. Ou em dias em que a veia homossexual se apodera de nós, cavas (de mim nunca se apodera e eu abomino cavas (exceptuando quem não depila a axila, fica sexy)). Mais artefacto espalhado pelo corpo, menos artefacto, não podemos muito fugir à nossa mais pura natureza. Já a gaja pode escolher mil combinações que há sempre maneira de melhorar infinitesimalmente o conjunto. Tendo noção disto, um gajo só pode confiar numa coisa: em si. E das duas uma, ou se encosta no num canto armado em bom e espera que tudo o que passa olhe e comente (e se fique por aí), ou desce do pedestal e dá uma lapada à mania. (Tentar) Falar, pagar bebidas, fazer de conta que conhece, tudo vale no caminho para a glória. Na mente dum gajo tem de estar sempre presente uma coisa: chegámos sozinhos, se sairmos sozinhos não perdemos nada. Daí que o verbo que mais se conjugue na mente masculina seja tentar. Mas sempre aliado à inteligência, como é óbvio. Se o alvo for um avião de primeira, por exemplo, não convém irem com o paleio que resulta lá na aldeira de onde vêm. Uma gaja assim já ouviu de tudo e mais alguma coisa, a tentar é a fazer algo pela qual ela nunca tenha passado. Difícil, claro. Há sempre o plano B, que consiste em escolher a melhor das que ela já ouviu ou a que ela gosta mais. Isto já depende da vossa dedução (que vai, invariavelmente, falhar). Quem pensa que para sair e divertir-se não precisa de ninguém... ou tem corpo de modelo, ou quando sai é para ir de portátil para um sítio com cobertura wireless ler blogs como este. É que os amigos não são mais que apoios que levamos para nos divertirmos se não arranjarmos acompanhante do sexo oposto. Imaginem que saio eu e mais três gajos. Eu e outros dois arranjamos qualquer coisa (claro que não posso ser eu a servir de exemplo a ficar a seco!), o outro... está desgraçado! Ou se emborracha no balcão e gasta uma pipa de massa ou vai para casa ou para o carro pensar no infortúnio que a vida é. Geralmente, este costuma ser o gordo, com carta (que não bebe para não haver problemas com a polícia). Para que conste, até costumo levar o carro e sou gordo (de criatividade e inteligência (desperdiçada)), mas como bebo, mesmo que tenha o carro... não posso servir de exemplo na mesma. Quando escrevo com a Liliana Aguiar na televisão as ideias perdem-se um bocado, admito. Imagino-me qualquer dia a encontrá-la numa disco, eu a usar a minha melhor roupa, a apostar tudo. No fim de contas só ia ter uma coisa a mais na vida... mais uma conjugação do verbo tentar. Ah, e o desejo de ter levado amigos!

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