quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ás vezes sim, às vezes não.

Tremeu quando a viu. Não sabia o que era, só se sentia a tremer. Perguntou-se porquê, vezes sem conta, e não passou da retórica. Esquece isso, deixa correr. E correu. Correu até lhe doerem as plantas dos pés. Cansado, sentou-se na beira da estrada, a contar os carros que passavam. Eram tantos que se perdeu em pouco tempo - perdeu-se em devaneios sobre o que já tinha vivido, até então. Reviveu momentos e pessoas, riu, chorou, corou.
Nunca se sentia inseguro na vida, mas naquele dia, estava-o.
Pegou-lhe pela mão, com três dedos, e caminhou à sua frente, guiando-a a lugar nenhum. Queria caminhar, sozinho e com ela, ao mesmo tempo. Gostava de ver a estrada sem restrições, mas não se via a abdicar de a ter por perto, para se sentir seguro. Engraçado, dizia, é tanto o terror de te ter, como de te perder. E neste impasse viajava, dias seguidos, à espera de nada - e de tudo. Ficava feliz com o que a vida lhe reservava, independentemente do que fosse. Sempre foi assim, sempre será. Será? - questionava-se. Hoje pôs tudo em causa, até a si próprio. Aquele tremer foi diferente. Foi um clique, não foi arrepio, daqueles que lhe dava quando passava uma brisa fresca.
Dá-me um abraço, pediu-lhe, dá-mo antes que não o queira. E quando o abraçou, já ele não o queria, e quando o largou, já ele o desejava. Vivia de sentimentos dicotómicos - ou os sentia, ou não. Quis gostar de si próprio, nem nisso conseguiu consenso. Não sabia se era bom ou mau, ser como era. Acabou por decidir que sim, que gostava de si - complicado como era. E se ele conseguia gostar, não deveria ser difícil a outro alguém o fazer. Não tinham de ser iguais para as coisas irem correndo. Ás vezes sim, ás vezes não.

10 comentários:

. disse...

Este é difícil de entender. Consegui perder "o fio à meada" algumas vezes e tive de recomeçar. Mas tem partes bonitas, no meio da sua dificuldade.
Já não é para qualquer pessoa :)

m&m disse...

a mim soou-me ao princípio do fim ... quando sabemos que as coisas já não são iguais... já não sentimos o msm pela outra pessoa, apesar de gostarmos, algo se quebrou... sentimos uma perda avassaladora! uma verdadeira montanha russa de sentimentos!!!
será?! :p

Unknown disse...

- É o que faz escrever sem intenção de postar. Acontece :)

- Quase, quase. Mas um texto não tem que ser decifrado para ser bonito, ou tem? :)

m&m disse...

claro que não!! nem foi isso que quis dizer ... pelo contrário! o interessante é escrever assim... sem ser taxativo ou claro como a àgua :p
mas faz parte de um bom texto despertar emoções e a quem o lê tentar entrar um bocadinho nesse mundo ;)
talvez tb tenha feito um pouco de "auto-análise" lool de qq forma é pq o texto é bom! e é bom pq nao diz " tou inseguro porque ..." ;)

. disse...

Estou a perder qualidades interpretativas. Era esta a descodificação do texto? A do 2º comentário?

Palavras disse...

Sinto às vezes (quase sempre) a mesma dicotomia a todos os niveis, relativamente a tudo mesmo! e com a dicotomia aparece a confusão... hmmm...vá..

Unknown disse...

- Exactamente! É por aí, mesmo :)

- Não. É muito complexo, este ;)

- Sentes nada pá, apaixonas-te fácil :)

. disse...

Ah bom, por instantes senti-me extremamente deslocada.

Palavras disse...

Ó homem, nem me conheces!! :p Vá..tenho várias paixonetas..isso sim...mas não duram mais que um dia (hora)!

Jazz disse...

Revi-me neste. Em noites de quarto escuro, de passeios no jardim, de tardes na ponta mais longínqua de uma esplanada.
Descreveste muito bem, estes codificados são de longe os meus favoritos :)*