domingo, 6 de dezembro de 2009

Amores e desamores

Há uma dicotomia que gostava de explorar aqui, de um prisma diferente do que foi feito já inúmeras vezes. Analisemos o Amor Trágico e o Amor Feliz - chamemos-lhe assim. Peçam a um escritor para escolher e que venha o Amor Trágico numa bandeja. Ele não quer saber se têm jeito, se não têm. Ele quer é que chorem baba e ranho, e despejem a raiva numa folha de papel, numa guitarra, numa tela ou até num jogo de futebol. O Amor Trágico passa o dia a ouvir rádio para encontrar uma letra de uma música com que se identifique; lê livros até cansar a vista para se resumir a si próprio numa frase; procura em todo o lado pequenos pormenores que lhe provem que não está só no mundo, na sua grande e inefável tristeza.
O Amor Feliz não. O Amor Feliz é um íman. Atrai tudo o que o Amor Trágico faz questão de dificultar. Não enche medidores de desabafos, não fertiliza o negro e o azedume que paira na criatividade, põe-te um sorriso na cara e ainda faz os dias mais bonitos. Não pede nada em troca e ainda te cumprimenta todas as manhãs.
O Amor Trágico faz chover no Inverno e no Verão. Escolhe roupas mal combinadas, obriga-te a ir com elas e a arrepender-te a meio caminho. Leva-te a escolhas mal ponderadas e a arrependimentos de palmo e meio. Traz-te sem nada na mão e deixa-te à porta de casa sem chave para entrar. Pior, tu gostas. E repetes. Não queres sair da rotina porque é aquela a que estás habituado.
O Amor Feliz deixa-te tão hipnotizado que nem reparas como chegas a casa tão depressa. Esqueces-te da chave mas a porta está encostada, por sorte. Ficas com desejo de Bolo Rei e, por sorte, está um por abrir na mesa da cozinha. Vais-te deitar na cama feita com lençóis lavados e, por sorte, já aberta. No fim, nem te ocorre pensar sobre a sorte que tiveste, durante o dia.
O Amor Trágico faz-te passar Noites Difíceis, culpa-te a ti e os outros por não conseguires adormecer, e ainda define o despertador para te acordar mais cedo que o previsto. Despenteia-te da forma mais irresolúvel possível e desenha-te as maiores olheiras da turma. Chama-te tudo, menos pelo teu nome. Tu agradeces. Mas não adormeces. Querias. Mas não adormeces. Direita, esquerda, direita outra vez, desespero e uma volta na varanda. O quente da cama ajuda. O Amor é que não.
O Amor é fodido, dizia o MEC. Quem o fodeu fomos nós, digo eu.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Thougts of a dying atheist

Dirigiu-se à varanda, abriu as portadas e respirou o ar gelado. Não estavam mais que cinco graus, lá fora, e o grito da noite era um voto de silêncio. Acendeu o último cigarro, esfregando as mãos uma na outra para enganar o frio. Tirou da mochila a máquina fotográfica e registou a cara da cidade, naquele instante, vezes sem conta. Tantas vezes já o tinha feito e tão poucas lhe soube que se estava a repetir. Havia algo ali de difícil descrição. Algo a pedir o uso do velho ditado, uma imagem vale por mil palavras. Ao fim de cem disparos considerava-se na posse de cem mil palavras. Escrevera uma enciclopédia sobre ela, pensou. E mesmo assim não bastava. Queria mais. Queria todas as páginas do universo manchadas com a tinta da sua caneta velha. Queria tatuar aquela cidade em todos os cantos do planeta, para que este se apercebesse que, apesar de pejado de inúmeras outras, possuía apenas uma assim. E que apenas aquela lhe fazia ganhar - nunca perder - a noite a fitá-la, horas e horas, na esperança de a descrever exactamente como a vê. Chamar-lhe-iam louco, no dia em que o fizesse, caso o lessem. Considerar-se-ia louco, se não reservasse uma vida para o testar.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

MUSE!

Só para vos causar inveja, fui ver Muse, ao Pavilhão Atlântico, e foi - permitam-me que abrevie a descrição - indescritível!
Para continuar a inveja, estava na frente, ao centro, da plateia, a uns 10 metros de distância do super Matt.
E sim, eu fui um entre aquelas centenas de pobres coitados que apanharam chuvada atrás de chuvada durante o fim de tarde, enquanto esperavam em filas desordenadas pela abertura das portas.

Pontos altos: A entrada, a New Born, United States of Eurasia (que se transforma, ao vivo, claramente), Stockholm Syndrome e o fecho, com a inevitável Knights of Cydonia.
Faltou a Bliss, Butterflies and Hurricanes e a Cave, entre outras que não tinha sequer esperança que tocassem.

De resto, 'See you all next year, Portugal!'


Para quem quiser ver a intro do concerto, que foi fenomenal, está aqui.

PS: O vídeo não foi gravado por mim. Com tanto gajo suado, musculado e exaltado à minha volta, se sacasse o telemóvel do bolso ainda acabava na cabeça do Matt.