O Natal é uma desculpa para toda a gente se reunir e apanhar uma narsa valente. No meu caso é uma narsa Costa, visto que sou Rui Costa e o resto da família também (mas conheço uma família que é Valente (de nome) e que o deve fazer). Quer dizer, não se chamam todos Rui Costa, o Costa é que é o nome comum a todos, perceberam? Aliás, nem todos, os que se casam com as minhas tias ou tios não são Costa, são outra coisa qualquer. Já para não falar no lado da minha mãe, porque aí são todos Silva. Excepto os/as tais que se casam com os/as tios/tias. Porque Costa é do lado do pai e Silva do lado da mãe. Não sei se me fiz entender até aqui, é que isto é um ponto muito importante para a compreensão do texto que se segue. Por acaso não é nada.
Podes parar de ser estúpido? Podes.
Vários membros da minha família (...materna. Ou seja, Silva. Lá está, convém conhecerem a família antes de lerem, é importante) têm o estranho hábito de proferir uma frase que me deixa sempre pensativo. Ele não gosta de vinho. Pois realmente até concordo com a frase. Até hoje ainda não provei um vinho em que chegasse ao fim do copo e soltasse um ahhh (à português, mesmo) e dissesse que bom, foda-se (isto já é mais à trolha, mas tudo bem). Nem sequer um este vinho é bom, quanto mais. No que eles não acertam é que um gajo tem que fazer sacrifícios por causas maiores, e o vinho ocupa uma posição privilegiada nesse campo - um outro caso é o minete, mas isso não é para cá chamado. Mesmo não gostando... um gajo manda abaixo. E só pára quando vomita. Melhor, só pára para vomitar (pessoal, estou a falar de vinho, não de minetes). Porque quem deixa de beber depois de vomitar é um bebé. Posto isto, pensava eu que ia ser o primeiro da minha geração a ir a casamentos da família e a juntar-me áqueles tios que acabam sempre a festa podres de bêbados e a armar grande estrilho... et voilá, dá-se um fenómeno caricato. Mesmo à minha frente na mesa, em pleno jantar de consoada natalícia, uma prima minha (do alto dos seus 15 aninhos), bravamente encorajada pelo meu tio (um dos tais que acaba os casamentos a ver quatro noivas), emborca um copo de champanhe. Ora, então, que retrógado, Rui, um copito de champanhe e ficas chocado? Não amigos, não fiquei. Fiquei quando ela continuou. Fiquei quando o meu próprio pai e até o meu avô - também eles acomodados por uma boa conta de garrafas de tinto - se viram para mim e dizem: Olha para a tua prima, aquilo é que é, não é como tu. Eu sorri, como quem diz epá é a vida (a verdadeira frase da merda, que diz tudo e não diz merda nenhuma). Eu, que sempre fui considerado o Bambini d'Or da família, posso estar em vias de perder o trono por causa duma jogada espiritual (perceberam o trocadilho, hein hein?), que drama! Será que me deixo ficar e lhe entrego o título de bandeja? Ou será que me afirmo perante a família e mostro o bêbedo decadente que há em mim? Amanhã tenho almoço/lanche/jantar familiar (desta vez com o clã Costa - bem disse que aquela introdução ia ser útil) e não sei o que fazer. Aliás, sei. Comer que nem um estúpido o dia todo. Comer, comer, comer. Porque se há coisa que nunca falta em jantares de família... é comida. E bebida. Já me estou a imaginar a virar-me para os meus tios e se os tios querem ser cá da malta, têm que beber esse copo até ao fim! e eu próprio já a cair redondo no chão. Ai que só de pensar até me dá vontade. E o meu avô (paterno, não se esqueçam que agora estou a falar do lado paterno! O outro é que disse que eu era um menino!), que pesa 20 quilos e tem 80 anos, era menino para alinhar na brincadeira. Ah, de notar que o meu avô é aquele tipo de velho que só bebe daquele vinho de qualidade. Not. Garrafa verde sem rótulo, tampa de borracha, mete qualquer coisa vermelha lá para dentro, siga mandar abaixo. Ah coisa bonita, aquilo só de estar sem tampa já me dá vómitos. A ele dá-lhe orgasmos. Mal posso esperar para chegar a velho.
Siga juntar a família, vou integrar-me!
P.S.: Esta folia toda que me atravessa o espírito deve-se à qualidade das prendas que recebi, entre elas conto um gorro estonteante (nunca ando de gorro e desejo a morte a quem anda), um robe ao qual nem consigo aplicar um adjectivo (idem), um gel de banho e champô de qualidade reconhecida (...por ninguém. É que não são duas prendas - o gel e o champô -, é um frasco que diz fazer as duas coisas, agora imaginem o que sai dali), entre outras desgraças. Fizessem todos como os meus avós, que dizem sempre o mesmo, oh filhinho - é sempre giro, avós tratarem netos por filhinhos - a gente não sabe o que te há de comprar por isso é o costume. E o costume é sempre óptimo, é rectangular e dá para trocar por uns objectos todos catitas que tenho em mente. Chama-se dinheiro. Antes fizessem todos como eles em vez de insistirem nestas coisas. Com um bocado de sorte, amanhã, entre um brinde, ainda tento vender as prendas que os meus tios me deram... a eles próprios. Era um história para contar aos filhinhos!
P.S.2: Estes exemplos de prendas que dei são do meu lado materno, ou seja, comecei o parágrafo a falar deles. No entanto quem costuma tratar-me por filhinho são os avós do outro lado. É a especificar as coisas que gosto disto organizadinho. Um post em que se fala da família não pode ser feito às três pancadas, há que ter tudo direitinho. Ao menos já podem dizer que conhecem boa parte da minha família, sou mesmo uma pessoa liberal. Amanhã se quiserem passar lá em casa - dos meus avós paternos! - é só tocar.
Vou dormir, algo não está bem comigo hoje com certeza.
.
Há 3 anos