Escrito a 17 de Fevereiro de 2014:
Hoje foi a segunda vez que visitei o meu avô no lar e que ele não me reconheceu. É Alzheimer, tenho a certeza, embora ninguém o admita. Foi chocante, a primeira vez. Nesta já lidei ligeiramente melhor. Mas faz-me muita confusão. Estar a falar com ele, sabendo que ele não sabe quem eu sou. Fala comigo porque eu lhe disse que era neto dele, e não porque se lembra de toda a minha vida, e de todas as vezes que falamos do FCPorto, da Sanjoanense, do CDS do Cambra e das esperas infindáveis que eu o obrigava a passar para me dar boleia da escola até casa dele. Uma viagem de 15 minutos a pé, e ele ia buscar-me de carro de propósito. Sempre fui um mimado. E ele fazia-me a vontade todos os dias do ano. Desde o 5º até ao 12º ano. É impensável para mim não retribuir o carinho agora, mesmo que ele não me reconheça. Ele merece. Porque se fosse eu, gostava que o meu neto, de quem tanto orgulho sempre tive e por quem tanto fiz, me fosse visitar de vez em quando. E eu vou, avô, prometo. Mesmo que já não te recordes de nada, vou sempre lá dar-te um beijo, porque eu gosto mesmo muito de ti. Choro neste momento porque sei que não consigo dizer-te na cara que te amo e o quanto te admiro. Não consigo dizer obrigado por tudo o que fizeste por mim, e sei que cada dia que passa é um risco grande de te apagares por completo. Que fique registada a minha cobardia, com as lágrimas que me caem pelo rosto. Lágrimas que nunca me caíram por nenhuma rapariga, mas que se atropelam sempre que te recordo e que penso no que será feito de ti.
O meu avô faleceu hoje. E partiu antes de eu ganhar coragem para lhe dizer obrigado.
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